Juíza pernambucana cria projeto para aumentar número de negros na Magistratura

juíza federal pernambucana Carolina Malta, de 38 anos, chamou atenção nas redes sociais ao anunciar um projeto pessoal para ajudar pessoas negras a se tornarem juízes. Há 16 anos na magistratura, ela decidiu doar seu tempo livre, em feriados e fins de semana, para entrar em contato com os mais afetados pela desigualdade no Brasil e colaborar para mudar esse cenário em um futuro próximo.

O projeto “Por Mais Juízes Negros”, na prática, pretende entregar a oportunidade de aprendizado que um estágio na área da justiça pode oferecer, superando as barreiras de acesso. Qualquer pessoa negra interessada na magistratura pode participar, recebendo informações sobre a carreira, metodologias de estudos e de elaboração de sentenças. O objetivo é oferecer a segurança necessária para que consigam a aprovação em concursos. Não é necessário estar cursando direito, mas ela lembra que esse deve ser um dos objetivos.

“A minha indignação com o racismo remonta à infância, mas só passou a ser objeto de estudo específico a partir do momento em que assumi a vara criminal, em 2014. Através de estudos é possível observar que é ínfimo o percentual de negros na magistratura e isso, logicamente, não decorre do fato de serem menos capazes. O ponto de partida da grande maioria dos negros é desfavorável, o que lhes faz desacreditar de suas potencialidades”, afirmou a juíza.

Uma das inspirações para o desenvolvimento do projeto foi a leitura do” Pequeno Manual Antirracista “da autora Djamila Ribeiro. Carolina conta que leu a publicação em menos de duas horas, e um capítulo sobre a prática antirracista a partir da transformação do ambiente de trabalho foi um estalo para colocar a ação em prática.

O panorama atual da magistratura revela em números a disparidade racial ainda existente no país. Apesar de 56,10% dos 209,2 milhões de habitantes do país se declararem negros, segundo o IBGE, apenas 2% dos magistrados no país são negros. Segundo Carolina, mesmo com a importância das políticas de ações afirmativas que viabilizaram o acesso a cursos universitários, o apoio e orientação disponibilizadas no projeto também podem ajudar a reduzir essa desigualdade.

“A desproporção numérica impõe um maior acesso pela necessidade de alterar o posicionamento do negro na sociedade. Ao ingressar nos prédios da Justiça, não pode haver o pressuposto de que o negro está lá nos serviços gerais ou como parte processual. A presença deve ser naturalizada nos papéis de operadores do direito, seja como advogado, defensor, promotor ou juiz”, ressaltou.

Carolina Malta ainda lembra que é impossível discutir o tópico sem mencionar o histórico de escravidão no Brasil. Ela cita a Constituição Imperial de 1824, que excluía dos chamados”criados de servir”e”libertos”do acesso à educação. Nesse cenário, segundo a magistrada, a ideia de igualdade perante a lei ainda é”utópica”e o desequilíbrio provado estatisticamente, é porta para adotar novas ações para diminuí-lo.

Para participar do projeto, basta entrar em contato com a juíza pelo e-mail [email protected]. Através do endereço, a pessoa poderá pegar modelos de sentenças, assistir audiências, ter sentenças corrigidas e outros auxílios.

Fonte: Época

Veja Também

TJ-PI lança cartilha sobre discriminação e assédio no trabalho

Com o objetivo de disseminar informações sobre discriminação e assédio sexual e moral no ambiente …