TikTok e empregados processam governo Trump por decreto banindo empresa

 

Em duas ações separadas, a TikTok e um de seus empregados nos EUA processaram, nesta segunda-feira (24/8) o presidente Donald Trump e seu governo. As duas ações alegam, entre outras coisas, que o decreto presidencial de 6 de agosto, que prevê o banimento da TikTok dos EUA em 45 dias, é inconstitucional, porque negou à empresa o direito ao devido processo.

ação movida pelo gerente de programa técnico da TikTok Patrick Ryan tem um viés trabalhista: alega que o banimento vai deixar os 1.500 empregados da empresa nos EUA sem trabalho — e suas famílias sem dinheiro. Dessa força de trabalho, mais de mil empregados deixaram outros empregos para trabalhar na TikTok.

ação movida pela própria TikTok, definida na petição como “um aplicativo de software móvel que 100 milhões de americanos usam para criar e compartilhar vídeos curtos com conteúdo expressivo”, afirma que Trump assinou o decreto por motivos políticos, não porque a empresa representa uma “ameaça incomum e extraordinária” aos Estados Unidos, como alegou o presidente.

A TikTok Inc. é uma das empresas da chinesa ByteDance Ltd., que também poderá ser banida e é coautora da ação. Mas é uma empresa registrada nos EUA, com sede em Los Angeles, Califórnia. As duas ações foram movidas em tribunais federais de distritos diferentes na Califórnia.

Classificar a TikTok como uma “ameaça incomum e extraordinária”  ao país é uma forma de o presidente exercer sua autoridade com base na Lei Internacional dos Poderes Econômicos de Emergência (IEEPA — International Emergency Economic Powers Act). A IEEPA concede ao presidente o poder de proibir certas transações para proteger a segurança nacional, como as que facilitam o terrorismo ou a proliferação de armas de destruição em massa, diz a petição.

A ação da empresa pede que o banimento seja proibido judicialmente, porque o decreto é ultra vires — expressão latina que significa agir ou fazer além do poder ou autoridade legal; uso excessivo do poder; ação de órgãos governamentais ou de empresas que excedem o escopo do poder que lhes foi conferido por lei ou estatuto social, segundo definições disponíveis na Internet..

A TitTok alega que Trump especulou com a possibilidade de o aplicativo ser manipulado pelo governo chinês. “Porém, o governo dos EUA sabe muito bem que a empresa tomou medidas extraordinárias para proteger a privacidade e a segurança dos dados dos usuários do país, como armazená-los fora da China (nos EUA e em Singapura). E são armazenados separadamente dos dados dos usuários da Byte Dance”, diz a petição.

Um segundo decreto emitido uma semana depois e previsto para entrar em efeito em 90 dias, obriga a TikTok a vender seus ativos americanos e todos os dados que coletou nos EUA. Trump anunciou que a TikTok Inc. “não tem direitos” no país e que a fecharia a não ser que fosse adquirida por uma empresa americana (a candidata é a Microsoft) em “uma negociação apropriada”, na qual “o Tesouro dos EUA arrecade muito dinheiro”.

A ação lista os aspectos ilegais ou inconstitucionais do decreto executivo:

  • Ao banir a TikTok sem notificação ou oportunidade de ser ouvida (seja antes ou depois do fato), o decreto presidencial viola as proteções do devido processo previstas na Quinta Emenda da Constituição;
  • O decreto é ultra vires porque não se baseia em uma emergência nacional bona fide e autoriza a proibição de atividades que não representam “uma ameaça incomum e extraordinária”, conforme não foi provado;
  • O decreto é ultra vires porque é tão amplo ao ponto de proibir qualquer transação com a ByteDance, embora a suposta ameaça só diga respeito à TikTok, apenas uma das empresas da ByteDance;
  • O decreto é ultra vires porque restringe comunicações pessoais e a transmissão de material informativo, em violação direta da IEEPA.
  • Ao exigir que a empresa faça pagamento ao Tesouro dos EUA como uma condição de venda da TikTok, o presidente está tomando propriedade da empresa sem compensação, em violação da Quinta Emenda;
  • Ao proibir a TikTok Inc. de operar nos Estados Unidos, o decreto presidencial viola o direito de expressão como meio expressivo de comunicação da empresa, previsto na Primeira Emenda da Constituição.

Tanto a ação da empresa, quanto a do empregado que representa toda a força de trabalho, alegam que a medida de Trump não passa de um esforço de campanha eleitoral. Uma das bandeiras da campanha de reeleição de Trump é a guerra comercial com a China. “Trump quer convencer os eleitores de que ele é durão com a China”, segundo o New York Times.

 

Conjur

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