Presidente do STF, Fux julga processos de clientes defendidos pelo filho em outra instância

O advogado Rodrigo Fux, filho do atual ministro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, é dono de um escritório de advocacia que atua em defesa de grandes empresas como Golden Cross, Embraer, H. Stern e concessionárias de serviços públicos, como a Light.

Por este motivo, Fux — o pai — não participa dos julgamentos dos eventuais processos em curso no STF em que o filho figura como advogado. O ministro se declara suspeito devido ao parentesco com Rodrigo.

No entanto, Fux julga ações que envolvem empresas com as quais Rodrigo tem ou teve relações profissionais em outras instâncias.

De acordo com reportagem publicada nesta segunda-feira (24) pela Folha de S. Paulo, é o caso, por exemplo, de litígios da Estácio de Sá, da Embraer, da Companhia de Gás do Rio de Janeiro e da Light,prestadora de serviços de iluminação no Rio.

Rodrigo já advogou para essas quatro empresas no STJ (Superior Tribunal de Justiça). No Supremo, Fux participa de julgamentos em que elas estão envolvidas. O ministro diz que não há relação entre a atuação do filho e a sua como magistrado.

“A suspeição é objetiva em relação aos casos que envolvem o filho ou o escritório do filho e não se estendem a empresas que, porventura, tenham contratado o escritório para outros processos. Sabe-se que as empresas têm a prática de contratar diversos escritórios para causas distintas”, diz a assessoria do presidente do STF.

Ele argumenta que não atuou em nenhum dos 28 processos em que o filho figura como defensor de uma das partes no tribunal que preside.

Debate sobre a atuação de parentes de magistrados

Não há irregularidade nesse tipo de atuação. Porém, hhá um debate antigo no mundo jurídico sobre a atuação de parentes próximos de magistrados. ​

No STF, por exemplo, os casos mais conhecidos são de Guiomar Mendes e Roberta Rangel, que são esposas, respectivamente, dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

A primeira é sócia do escritório Sérgio Bermudes Advogados, e a segunda, da Warde Advogados, duas das maiores bancas do país.

Já no STJ, o presidente da corte, Humberto Martins, e os ministros João Otávio de Noronha e Francisco Falcão têm filhos que atuam no tribunal.

Conheça outros casos de atuação de parentes próximos de magistrados:

  • Guiomar Mendes

Esposa do ministro do STF Gilmar Mendes, é sócia do Sérgio Bermudes Advogados, um dos maiores escritórios do país e que tem processos nos tribunais de Brasília

  • Roberta Rangel

Esposa do ministro do STF Dias Toffoli, tinha um escritório próprio e, neste ano, tornou-se sócia da Warde Advogados​, que também tem inúmeros processos em cortes superiores

  • Djaci Falcão Neto

Filho do ministro do STJ Francisco Falcão, é advogado e atua nos tribunais de Brasília. Quando presidiu o Superior Tribunal de Justiça, Falcão tomou decisões em processos representados pelo filho

  • Anna Carolina e Otávio

Filhos do ministro do STJ João Otávio de Noronha, atuam perante o tribunal em que o pai trabalha

  • Eduardo Martins

O filho do atual presidente do STJ, Humberto Martins, também é advogado e tem causas na corte presidida pelo pai

Quando o magistrado deve se declarar ‘suspeito’?

Código de Processo Penal prevê que o magistrado deve se declarar suspeito apenas quando o cônjuge ou parente de até terceiro grau “sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes”. O mesmo deve ocorrer em casos em que o juiz for “amigo íntimo ou inimigo capital” de uma das partes.

O escritório do filho de Fux fica no Rio de Janeiro, leva o nome da família e conta com ao menos 25 advogados. Os processos no STF envolvem os mesmos clientes do filho de Fux, mas não necessariamente têm vínculo com ações em que ele defende a empresa em outra instância.

No STJ, segundo tribunal mais importante do país, Rodrigo figura em 202 processos. No Supremo, são 28 causas patrocinadas pelo filho do presidente —nesses casos, quando aparece o nome do escritório, outra banca assume a causa. Em todos, Fux se declara impedido.

De acordo com a Folha, o magistrado segue julgando, porém, ações de empresas com que o filho tem ou já teve relação profissional, mas em que ele não aparece como responsável pelo processo.

Como Rodrigo defende grandes multinacionais, as empresas têm inúmeras ações no Supremo com diversos advogados em diferentes causas. Fux já deu decisões contrárias às contratantes do filho. Em outros casos, impôs derrotas a quem acionava a corte contra essas empresas.

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