quinta-feira , março 28 2024

Munição encontrada no caso Marielle aparece em outros 17 crimes cometidos no Rio.

Investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio que atuam na apuração do homicídio da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes descobriram que munições do mesmo lote que o encontrado na cena do crime aparecem em outros 17 casos ocorridos só no Rio de Janeiro.

CNN teve acesso ao documento que traz detalhes de episódios desde 2013 em que munições compradas pela Polícia Federal, identificadas pelo grupo UZZ-18, aparecem nas mãos de criminosos de diversas facções na capital fluminense.

Oito das nove munições encontradas no local em que Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados fazem parte de um lote de 1,8 milhão comprados pela Polícia Federal (PF) junto a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) em 2006.

De acordo com informações levantadas pelos investigadores, munições do mesmo lote começaram a aparecer em cenas de crime no Rio de Janeiro em 2013, cinco anos antes da morte de Marielle. O primeiro caso ocorreu em uma apreensão de armas, na Rocinha, favela na zona sul do Rio. Na ocasião, a polícia apreendeu armas deixadas por traficantes em fuga.

Os dados sobre as ocorrências mostram que em 53% dos casos as munições do mesmo lote que o encontrado no caso Marielle apareceram nas mãos de traficantes; 18% nas mãos de milicianos e 6% nas mãos da própria PF. No restante dos casos, não há informações mais detalhadas sobre quem estava com as armas.

Entre 2013 e 2018, munições do lote UZZ18 apareceram em cenas de homicídios de policiais militares, guerra entre traficantes e milicianos por territórios, apreensões de drogas e armas e até em uma tentativa de roubo de carga. Adquiridas pela PF em 2006, as munições foram distribuídas a partir de Brasília para as outras superintendências do órgão em todo Brasil

Os 17 episódios descobertos após amplo levantamento coordenado pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio somam-se a outros dois casos em que munições que foram desviadas da PF foram encontradas.

Em 2015, a PF descobriu que munições do mesmo grupo foram usadas numa chacina com 17 mortos e sete feridos em São Paulo. Além disso, meses depois do assassinato de Marielle, a PF também levantou que parte dos projéteis apareceu em um assalto em uma agência dos Correios na Paraíba, em 2017.

Nesta semana, a CNN mostrou que o Ministério Público Federal rejeitou o pedido de arquivamento do inquérito da PF que apurava como as munições do órgão foram parar nas mãos de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, reús pela morte de Marielle e Anderson. A PF quis arquivar o caso, mas o MPF solicitou novas diligências.

Saber como as munições foram parar nas mãos dos acusados do crime é um ponto considerado central na investigação sobre a existência de um possível mandante da morte de Marielle, e é algo que ainda não foi totalmente esclarecido.

Na opinião de investigadores que trabalham no caso, trata-se de algo que “é difícil, mas não é impossível”. Uma das pontas soltas é entender qual quantidade e como foram desviadas munições deste lote de 1,8 milhão da PF compradas em 2006 — e como foram parar em tantos casos de crime no Rio e em outros locais do Brasil.

CNN procurou a PF, mas ainda não teve resposta.

 

Publicado originalmente na CNN.

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