Sity, o “Uber brasileiro”, expande para 10 novas cidades mesmo na crise

App visa chegar a 2 milhões de usuários e já opera com fluxo de caixa positivo. Desafio será competir na guerra de descontos do setor diante do coronavírus

Os meses não têm sido fáceis para as empresas de transporte compartilhado. Com o isolamento social que reduziu a circulação de pessoas no Brasil e no mundo, empresas como Uber99 e Cabify tiveram redução na demanda e vêm apostando em outras frentes — como entregas de produtos.

Mas na contramão das grandes rivais, uma startup brasileira do setor espera usar a pandemia para crescer. A paulista Sity, nascida em 2017, está expandindo a operação para dez novas cidades. Até então, a empresa operava somente em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ).

A empresa passou a operar nas últimas semanas em Porto Alegre e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Florianópolis, em Santa Catarina, Cascavel e Curitiba, no Paraná, Vitória, no Espírito Santo, Belo Horizonte, em Minas Gerais, Salvador, na Bahia, Goiânia, em Goiás, e Brasília, no Distrito Federal.

O fundador da Sity, Fernando Ângelo, afirma que a startup está conseguindo crescer mesmo com o coronavírus. A meta é ir das atuais 12 para 29 cidades até o fim do ano.

Uma das apostas é atrair cada vez mais motoristas para, no pós-pandemia, ter uma base consolidada capaz de atender mais clientes. Uma base pequena de motoristas — que pode fazer as corridas demorarem a ser respondidas — é um dos fatores que expulsa usuários dos apps, diz Ângelo.

“Queremos ter uma posição agressiva, realmente. Para que possamos, ao final da pandemia, ter uma boa frota para atender à demanda. É um momento de crise mas também de consolidação e crescimento da base de motoristas e usuários”, diz o fundador.

A Sity tem um foco grande nos motoristas desde o nascimento e parte do modelo de cobrar deles taxas menores pela corrida. A empresa cobra uma fatia de 10% por corrida, ante valores que podem passar dos 20% ou 30% em outros aplicativos. A startup brasileira também vem oferecendo um bônus de 100 reais aos motoristas que indicarem colegas para dirigir pelo app — recebido somente quando o indicado completa 100 corridas realizadas.

“Para nós houve um boom no número de motoristas [com a pandemia]”, diz o fundador. Segundo a Sity, há milhares de motoristas na lista de espera para ingressar no app. “Somos muito bem vistos entre os motoristas e isso é um grande ativo para quando a pandemia acabar. Muitos estão nos procurando porque, com a queda no número de passageiros, o valor que eles ganham também caiu, mas nós pagamos mais”, diz Ângelo.

Mesmo antes da expansão para as novas cidades, a empresa havia atingido a marca de 100.000 passageiros ativos e mais de 20.000 motoristas em São Paulo, seu maior mercado. A expectativa é chegar ao fim do ano com 80.000 motoristas e mais de 2 milhões de passageiros.

Davi e Golias

Na outra ponta, brigar com as grandes empresas internacionais é uma tarefa ingrata, sobretudo em meio à crise, que freou parte dos investimentos no setor de mobilidade. O segmento de transporte por aplicativo ainda é altamente focado em descontos e cupons, e uma empresa menor, como a Sity, pode ter dificuldade em atrair clientes neste cenário, mesmo com uma base sólida de motoristas.

No meio dessas dificuldades, a pandemia vem trazendo desafios adicionais ao setor. A Uber, líder do mercado e a única de capital aberto entre as três maiores do segmento, anunciou a demissão de 25% de sua força de trabalho e disse que fecharia dezenas de escritórios pelo mundo. Mesmo a operação do Uber Eats, de entregas e que vem se saindo melhor em meio à crise, foi encerrada em sete países, incluindo no Uruguai.

A Sity se mantém até agora sem aportes de investidores, com investimento somente dos sócios e com o próprio fluxo de caixa. Ângelo afirma que tem negociações com investidores mas que a rentabilidade é o foco da companhia, o que, para ele, é possível atingir com uma operação “enxuta”. A empresa não revela o faturamento. “Nosso fluxo de caixa já é positivo. Queremos nos tornar uma empresa modelo e referência para os fundos”, diz.

Apesar da expansão, a Sity também refez planos para 2020, reduzindo a projeção de crescimento e adiando campanhas de marketing que tinha previstas para as novas cidades em que estreou. A startup tem hoje 60 funcionários, a maioria em sua sede, na avenida Faria Lima, e está contratando. A projeção é chegar ao fim do ano com entre 120 e 180 funcionários.

Hoje aos 31 anos, Ângelo chegou à cidade de São Paulo aos 18, vindo de Ourinhos, no interior do estado. Ele diz sempre ter tido o sonho de ser empreendedor. Desde então, entre empregos de garçom e vendedor na rua, chegou a ser dono de uma transportadora antes de fundar a Sity no início de 2017.

O empresário afirma que, apesar da concorrência alta, criou a Sity após perceber, em conversas com motoristas de aplicativos, uma carência desses profissionais por um melhor atendimento por parte dos apps — o que espera usar como diferencial para o futuro.

A pandemia não desanimou Ângelo sobre as perspectivas da startup. “Sabemos que é um mercado difícil, com margens apertadas. Queremos ir devagar mas sempre consolidando o que construímos e com responsabilidade financeira. Sabemos que demora um certo tempo”, diz.

 

Exame

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