Pessoas com uma dose da vacina podem sentir ‘falsa segurança’

Especialistas e ministro alertam para o grande número de pessoas que não está retornando aos postos para a dose de reforço

Nesta semana, o Ministério da Saúde alertou que cerca 1,5 milhão de brasileiros que receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19 não voltaram para o reforço da imunização.

Especialistas explicam que essa escolha pode trazer prejuízos individuais e coletivo no controle da epidemia no Brasil.

O epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública, da USP, afirma que a eficácia da vacina é menor sem as duas doses.

“Algum grau de imunidade todos terão, mas a proteção e eficácia não é a mesma que seria conferida com as duas doses. A própria duração da imunidade pode ser reduzida. Mesmo que ainda não tenhamos os estudos concluídos do tempo de imunidade, a falta de duas doses causa impacto”, afirma o médico.

O próprio ministro Marcelo Queiroga fez um apelo às pessoas, no lançamento da vacina contra a gripe, na última segunda-feira.

“É preciso que aqueles que não tomaram a segunda dose, procurarem os postos de vacinação e se vacine. Só assim conseguiremos controlar essa crise sanitária.”

Waldman também acredita que tenha um impacto na crise e explica que acaba sendo normal a queda de adesão em campanhas de vacinação com mais de uma dose.

“Tem um impacto geral, mesmo que seja difícil mensurar efetivamente. Infelizmente, nas campanhas de vacinação de mais de uma dose, existem perdas de adeptos a partir da primeira dose. Isso é esperado”, disse ele.

E completa sobre a falta de explicação correta do funcionamento das vacinas. “Acho que falta muito uma campanha de divulgação efetiva por parte dos governos que se explique para a população qual é o funcionamento da vacina, como deve ser a dosagem”, reclama o epidemiologista.

A infectologista Keilla Freitas, do Hospital Sírio-Libanês e diretora da clínica Regenerati, avalia que as pessoas se sentem imunizadas após primeira dose.

“As pessoas estão com a falsa sensação de segurança e acabam ficando doentes antes. Na prática, verificamos idosos com covid antes de tomar a segunda dose, ou pouco após a segunda dose. O que mostra que a pessoa se infectou entre as duas doses. Temos casos graves e, inclusive, casos de óbitos”, conta a especialista.

Mesmo quem já foi infectado com o SARS-CoV-2 deve tomar as duas doses da vacina, seja qual for o imunizante: CoronaVac ou Oxford, os dois que estão sendo aplicados no Brasil.

Keila Freitas indica que é imprescindível a vacinação, mas respeitando distanciamento entre o fim da doença e a imunização.

“Paciente que pegou covid deve tomar a vacina após um mês da cura. Isso porque resposta vacinal está diretamente relacionada à capacidade de resposta do sistema imune. Se estou com o sistema com debilidade, não vou ter a melhor resposta que poderia ter à vacina”, explica a médica.

A médica acrescenta que, no caso de quem foi infectado entre uma dose e outra, não há problema em esperar um período maior do que o indicado.

“O importante é o organismo estar recuperado para conseguir reagir bem ao imunizante”, recomenda.

Vacinação correta não é o fim da prevenção

Os dois especialistas ouvidos pelo R7 são taxativos ao dizer que a vacinação, mesmo que atingindo mais gente, não vai dispensar o uso de máscaras, a restrição de aglomerações e higienização das mãos.

“Por mais que tenha menor chance de ter um caso grave da doença, ela ainda pode se infectar e transmitir infecção para uma pessoa que ainda não tomou a vacina, ou já teve, mas não está imunizado ou até de pessoas que estão entre as duas doses”, salienta Keila.

O professor da USP alerta, ainda, que a covid surgiu por causa das pessoas e que o mundo dificilmente será o mesmo.

“A vacina só não segura. Precisa ter mais vacina, para acelerar o processo, e todas as medidas de prevenção. Nada indica que seja verdadeira a afirmação: quando vacinarmos todo mundo, estamos resolvidos e todo volta ao normal. Precisaremos seguir com as medidas de prevenção. Não foi a covid que trouxe o novo normal, e sim o novo normal que trouxe a covid”, diz o epidemiologista.

E explica: “Novas doenças devem surgir, depois do aumento da população do mundo e da forma como vivemos no mundo. Teremos de usar os ensinamentos da covid, no futuro”, finaliza Waldman.

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