Advogado piauiense lança livro

“O Ópio” é um romance ficcional que tem como narrador-protagonista o professor piauiense Aquiles Oeirense dos Anzóis Pereira, ex-líder estudantil, ex-militante de esquerda e historiador.

A mais recente obra do escritor Láurence Raulino, dividida em 40 capítulos, mostra o cotidiano de um professor universitário e seus relacionamentos amorosos do meio acadêmico, entre elas mulheres e alunas de alto poder aquisitivo, e que com o tempo abdica da lida difícil de professor se tornando um perfeito “bon vivant” no melhor estilo burguês.

A trama tem como pano de fundo fatos importantes e reais do cenário político brasileiro, iniciando com a tentativa de sequestro do corpo do ex-senador e ex-governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, eleito presidente da República, e na sequência a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, além de outros acontecimentos da história do país e do mundo, como a passagem do cometa Halley e a queda do Muro de Berlim.

Por meio do erotismo praticado pelo ex-militante, “O Ópio” (Editora Nelpa, 509 páginas) traz ainda à tona uma questão controversa que beira o ateísmo, mas sem fazer apologia a este. Na visão do protagonista, “a fé é imprescindível, uma mentira necessária, eis que é o ópio do povo, a ser cultivado e a ele distribuído, ao inverso das referências de Feuerbach sobre a religião, resgatadas e revividas por Marx”. Para ele, “essa mentira pode ser indispensável e até mesmo vital, para um determinado indivíduo, tanto quanto para a grande maioria da humanidade, que não viveria sem ela”.

A lascividade e o encanto pelas mulheres são algumas das características marcantes na personalidade do narrador Aquiles, cuja vida adquire certo sentido sendo preenchida pelos prazeres rápidos proporcionados muitas vezes pela infidelidade conjugal, regada com grandes doses de sexualidade desprovida de pecado.

O autor, Láurence Raulino, também se faz presente na obra como advogado que atua na defesa do amigo e conterrâneo, Aquiles.

A presumida morte do protagonista, supostamente assassinado no final das festividades dos 450 anos da capital paulista, deixa no ar um suspense sobre se alguém o matou e quem o teria matado, conduzindo o leitor a uma reflexão sobre a vida que se leva e que, segundo o próprio personagem, leva “rumo ao nada”.

Para o narrador-protagonista, assim como a religião, que na perspectiva feuerbachiana não passa de uma ilusão ou um “ópio”, o amor, o dinheiro e o sexo podem ser considerados narcóticos, ou uma forma de escapismo quanto à falta de sentido da vida, à sua banalidade, em um viés existencialista.

Apesar da luxúria e da companhia constante de várias e belas mulheres, o autor revela alguns sentimentos presentes na vida do personagem burguês, como a solidão, possivelmente decorrente de um grande amor perdido, conforme retratada nos versos da canção “As Curvas da Estrada de Santos”. “Você vai pensar que eu/Não gosto nem mesmo de mim/Só ando sozinho e no meu caminho/O tempo é cada vez menor/Preciso de ajuda, por favor me acuda/Eu vivo muito só/Onde eu tento esquecer/Um amor que eu tive e vi pelo espelho/Na distância se perder”.

“O Ópio” é uma obra singular, que retrata o universo de um personagem burguês levando à discussão da problemática da existencialidade humana, com suas crenças, equívocos e fantasias.

Sobre o autor 

Láurence Ferro Gomes Raulino nasceu no Piauí, é advogado (procurador-federal), articulista e autor de outros sete livros.

 

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