Americanas promove mudança societária para correr atrás de Magalu e Mercado Livre

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As salas de reunião da sede da Americanas, no Rio, costumam exibir o seguinte aviso nos seus interruptores: “Ao sair, apague as luzes”. O mantra de austeridade nos gastos faz parte da cultura de todas as empresas controladas pelo trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Hoje eles estão à frente da companhia de private equity 3G Capital, uma das principais acionistas de conglomerados como AB Inbev, Kraft Heinz e Restaurant Brands International (dona do Burger King).

Mas a Lojas Americanas, fundada em 1929 em Niterói (RJ), passou ao controle do trio ainda em 1982, quando eles comandavam o banco Garantia. O antigo modelo de lojas de departamentos passou por transformações, a companhia enfrentou uma reestruturação no final dos anos 90, investiu no comércio eletrônico com uma empresa à parte, a Americanas.com, e acelerou o número de aquisições -só nos últimos 15 anos, somam 28.

Austeridade nos gastos e fome de compras, no entanto, não estão sendo suficientes para garantir bons resultados. A Americanas S.A. (que este ano passou a reunir os ativos de Lojas Americanas e B2W, dona da Americanas.com) encerrou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 500 mil e receita líquida de R$ 12,2 bilhões. Já o maior rival, Magazine Luiza, fechou os primeiros seis meses do ano com lucro de R$ 354,2 milhões e receita líquida de R$ 17,3 bilhões.

Os donos bilionários perceberam que, em um mundo corporativo que vem dando cada vez mais peso às siglas ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança na alocação de recursos), é preciso mostrar mais transparência para atrair investidores estrangeiros. Daí veio a simplificação da estrutura societária da companhia, anunciada em abril -a empresa passa a ter uma única ação listada no Novo Mercado da B3, o de mais alta governança-, algo que só foi possível com a diluição da participação dos controladores: de 53,3% para 29,2%.

“A mudança veio tarde”, diz o consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners. “Essa falta de agilidade na união entre as empresas online e offline contribuiu para que outros competidores, em especial o Magazine Luiza, ganhassem espaço”, diz Pimentel, destacando que a empresa controlada pela família Trajano nunca separou as operações de lojas e comércio eletrônico.

De acordo com o especialista, o salto do comércio eletrônico nas vendas durante a pandemia contribuiu para que competidores estrangeiros, como o Mercado Livre e a própria Amazon, começassem a aumentar suas fichas no mercado brasileiro. Não por acaso, a Americanas vai listar suas ações nos Estados Unidos, mudando o domicílio da sua sede.

“Essa diferente estrutura societária dos dois negócios impedia uma sinergia maior entre os negócios”, diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail. “Além disso, os minoritários reclamavam do nível de transparência. O fato de mudar de controladores para acionistas de referência [principais] não é o suficiente para atrair mais investimentos, mas é um bom começo”, afirma.

O mercado reagiu bem aos anúncios. As ações da Americanas encerraram o pregão desta quarta-feira (3) em alta de 6,57%, cotadas a R$ 33,27. Já o papel das Lojas Americanas (que ainda está sendo negociado) disparou 13,33%, para R$ 5,78.

Relatório do banco Goldman Sachs, assinado pelos analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, apontam entre os principais desafios da nova estrutura o aumento da competição entre os principais players de comércio eletrônico que hoje estão bem capitalizados, como Mercado Livre e Magalu.

Já os analistas da XP Investimentos Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt afirmaram em relatório que, apesar de verem o anúncio como positivo, mantêm a recomendação Neutra para o papel. “Temos uma visão cautelosa em relação à dinâmica do e-commerce frente ao aumento de competição no setor e deterioração do cenário macroeconômico, que tende a impactar mais fortemente teses ligadas ao consumo e de alto crescimento”.

 

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