terça-feira , março 19 2024

Mulher indiciada por ataque racista e homofóbico não tem registro de advogada na OAB

A mulher que apareceu em um vídeo que circula nas redes sociais ofendendo e agredindo funcionários e clientes da padaria Dona Deôla, na Zona Oeste de São Paulo, não tem registro de advogada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Quando foi presa pela Polícia Militar (PM) na sexta-feira (20), Lidiane Brandão Biezok, de 45 anos, falou que é “advogada internacional”.

“Eu sou advogada internacional, cala a sua boca, sua bicha do c*”, disse Lidiane no vídeo no qual ofende um cliente do estabelecimento.

 

Ela também informou no boletim de ocorrência do caso, registrado no 91º Distrito Policial (DP), Ceasa, que é “advogada”. A mulher foi indiciada pela Polícia Civil por três crimes: injúria racial, lesão corporal e homofobia.

 

“A OAB SP esclarece que a senhora Lidiane Brandão Biezok não consta no sistema de cadastro da entidade e nem no Cadastro Nacional de Advogados (CNA), mantido pelo Conselho Federal da OAB, que exerce a função de fiel repositório do cadastro de todos os advogados do Brasil”, informou nota divulgada nesta segunda-feira (23) pela OAB em São Paulo.

 

Segundo fontes da entidade, existe a possibilidade de que Lidiane seja aluna de direito ou já tenha se formado no curso, mas não possua o registro. Outra hipótese é que ela tenha registro de advogada em outro país.

Lidiane foi solta neste sábado (21) por decisão da Justiça, que converteu a prisão em flagrante em prisão domiciliar. Nesta segunda, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) citou o fato de Lidiane ter “problemas psiquiátricos” como uma das justificativas para que ela fique presa em casa.

 

‘Desculpas e depressão’

Até a última atualização desta reportagem, o G1 não havia localizado Lidiane para comentar o assunto. O advogado dela também não foi encontrado.

 

Neste domingo (23), quando falou com a reportagem, a mulher se identificou como advogada e pediu desculpas às vítimas pelo que fez. Também alegou que sofre de depressão.

 

“Esse problema de depressão é genético, é grave, não é uma depressãozinha, entendeu? É uma depressão para o resto da vida, é bipolaridade. É uma coisa complicada, é complexo”, disse Lidiane por telefone.

 

“Eu gostaria muito, muito mesmo de dar um abraço neles e falar: ‘Desculpa, cara. Desculpa, perdão'”, declarou Lidiane, que se mostrou arrependida, dizendo que não quis ofender e agredir ninguém.

Essa não foi a primeira vez, porém, que Lidiane foi acusada por xingar e bater em alguém. Em 2005, ela havia sido acusada de calúnia, injúria e difamação. E, em 2007, respondeu por lesão corporal.

Os dois processos, no entanto, foram suspensos na Justiça. O motivo seria o fato de a ré ter depressão, o que a impediria também de exercer a advocacia, segundo policiais ouvidos pelo G1.

 

Vídeos

Os vídeos gravados na sexta na padaria mostram Lidiane ofendendo e agredindo as pessoas, o que foi confirmado por funcionários ouvidos pelo G1.

 

A confusão começou depois que clientes começaram a filmar Lidiane humilhando uma atendente da padaria. A mulher ainda atirou objetos nos funcionários e quebrou uma TV, segundo testemunhas.

Na filmagem, a mulher aparece jogando guardanapos na direção de uma funcionária, a quem ofende enquanto reclama do lanche.

 

“Você ainda trabalha na Dona Deôla. Você não é a rainha da Inglaterra”, diz Lidiane no vídeo. “Eu só quero uma coisa de qualidade. Isso aqui é lixo. Sabe para que você presta? Para pegar meus restos.”

 

Em seguida, a gravação mostra o artista Kelton Campos Fausto, de 24 anos, se aproximar de Lidiane e falar: “Ela não está aqui para te servir, amore. Ela não vai te servir”.

 

Injúria, lesão e homofobia

Luana da Silva Lopes, uma das funcionárias ofendidas, se emociona quando lembra do que Lidiane lhe disse.

 

 

“Aí, ela falou assim para mim: ‘Você tem cara de ser da Zona Leste'”, falou Luana, que disse que chora de ódio e raiva por ter sido humilhada.

 

As imagens também mostram o artista Ricardo Boni Gattai Siffert, de 24 anos, sendo xingado por Lidiane com ofensas homofóbicas. Agredido por ela, ele não reagiu.

“Sabe o que você traz? Aids. Sabe o que você traz? Câncer”, disse Lidiane a Ricardo. “Eu não tô falando mais de p* nenhuma. Então aqui é uma padaria gay? Eu não tô falando p* nenhuma. Seu filho da p* [depois, Lidiane agrediu o rapaz]. Você quer me atacar, seu filho da p*?”

Kelton ainda relatou no boletim de ocorrência que Lidiane o ofendeu com palavras racistas.

“Para que essa discriminação? Para quê? A gente está trabalhando”, lamentou Osvaldo da Silva Santana, empregado da padaria, em entrevista ao G1.

 

“Aí, ela falou assim: ‘Olhe para o seu cabelo. Você é negra. Olhe para o meu cabelo. Eu sou loira'”, contou outra funcionária, Wanderleia do Nascimento.

 

Ainda no domingo, Lidiane chegou a afirmar ao G1 que tinha ido comer um lanche na Dona Deôla quando, segundo ela, foi filmada e agredida por clientes e maltratada por funcionários.

“Eu não tive a mínima intenção em ofender ninguém. Eu me senti acuada, me senti uma vítima ali de uma situação de que eu não tinha como sair. Fui agressiva e estúpida, mas não tenho nada contra homossexuais. Peço desculpas”, falou a mulher.

Os vídeos foram analisados pelo 91º DP, que registrou o caso. A investigação será feita pelo 23º DP, em Perdizes.

O que diz a padaria

Dona Deôla se posiciona a respeito de caso de ofensas e agressões na padaria no Dia da Consciência Negra em São Paulo — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Os donos da padaria Dona Deôla disseram que orientam os funcionários não reagir a agressões nem xingamentos, principalmente dos clientes. E que, por esse motivo, a mulher não foi expulsa. Os empregados, então, chamaram a PM.

 

“A gente repudia qualquer atitude discriminatória aqui dentro. A gente é uma empresa que aceita diversidades em clientes e funcionários. E nunca tivemos um problema como esse”, disse Ana Carolina Mirandez, sócia da padaria.

 

A empresa também se posicionou nas redes sociais, classificando a atitude de Lidiane como “lamentável” e “repugnante”.

“A gente ficou, a gente sentiu muito pelo ocorrido. Principalmente porque isso tudo começou agredindo os nossos funcionários, que estão aqui para trabalhar e receber todo mundo”, falou a sócia da Dona Deôla.

Por Kleber Tomaz, G1 SP — São Paulo

Fonte: g1.globo.com

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