Médicos criam regras para definir vaga na UTI durante pandemia

Entidades médicas estabeleceram três critérios para decidir quais pacientes devem ter prioridade no atendimento em caso de esgotamento de recursos

Quatro entidades médicas se reuniram para criar um protocolo ético e técnico para que os médicos possam decidir quais pacientes terão prioridade de atendimento em caso de esgotamento de recursos durante a pandemia de covid-19.

O objetivo do “Protocolo AMIB de alocação de recursos em esgotamento durante a pandemia por covid-19”  é fornecer critérios claros para que os médicos não tenham de decidir de maneira muitas vezes subjetiva, aumentando a pressão e a carga emocional sobre eles, o que pode até mesmo vir a impossibilitá-los para o trabalho.

As entidades que assinam o protocolo são: AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), ABRAMEDE (Associação Brasileira de Medicina de Emergência), SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos).

Decisão inevitável

O documento explica por que a adoção do protocolo é necessária. Diz o texto:

“A exemplo do que ocorreu em outros países, a alta demanda por serviços especializados de saúde característica da covid-19 pode levar a uma situação crítica em que a oferta de leitos de UTI e de ventiladores é insuficiente para atender a demanda de pacientes graves, a despeito dos melhores esforços de ampliação da rede de serviços emergenciais. Esse esgotamento de recursos, em especial de leitos de UTI, respiradores mecânicos e profissionais habilitados, poderá comprometer a oferta de cuidados tanto a pacientes portadores de COVID-19 quanto a pacientes portadores de doenças não pandêmicas. Diante dessas circunstâncias, decisões em relação a quais pacientes serão alocados os recursos escassos tornar-se-ão inevitáveis”.

Essa situação já está acontecendo no Brasil. O aumento exponencial de casos de covid-19 já faz com que cidades tenham dificuldade de dar atendimento aos pacientes.

No Estado do Amazonas, só para citar um exemplo, a situação já é caóticaCidades do interior sofrem com a falta de estrutura para lidar com a situação.

Nesta segunda-feira (4), o Brasil registrava 7.321 mortes por covid-19, 107.780 casos e 45.815 curados.

Idade não é critério de eliminação

Este documento é a segunda versão do procotolo. A publicação da primeira versão incluía a idade como um dos três principais critérios de triagem. Esse critério foi retirado.

“Compreendeu-se que este critério poderia ser discriminatório (e, portanto, inconstitucional) e que sua presença poderia comprometer a base de solidariedade que é característica da atenção em saúde.”

Quais são os critérios adotados?

Segundo o documento, a escolha será feita com base em três critérios, a saber:

1) Salvar o maior número de vidas

O critério aqui adotado é o SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), que pontua a gravidade da condição do paciente. Essa escala vai de 0 a 4, sendo 0 a menos grave e 4 a mais grave. Quanto maior a pontuação, menor a chance de sobreviver.

2) Salvar mais anos de vida

O segundo critério é salvar o maior número de anos/vida, ou seja, salvar o maior número de vidas que sejam também mais longas. Isto é feito através da identificação de maior probabilidade de sobrevida inferior a um ano em decorrência da presença de comorbidades. Pacientes cuja expectativa de vida seja inferior a um ano recebem 3 pontos. Os demais não recebem pontuação.

3) Condição física do paciente

Para este critério é utilizada uma medida de funcionalidade usada em oncologia chamada ECOG (Eastern Cooperative Oncology Group) que mede a capacidade funcional física e de independência e auto-cuidado do paciente. Esse critério foi adotado por ser mais neutro em relação à idade. Esta escala vai de 0 (completamente ativo) a 4 pontos (completamente incapaz de realizar auto-cuidados básico, totalmente confinado ao leito ou à cadeira).

Resultado para a escolha

Quanto menor for a pontuação de um paciente segundo esses critérios, maior será a sua prioridade de alocação de recursos escassos.

Se houver empate, os critérios adotados de desempate serão:
• Menor pontuação do SOFA
• Julgamento da equipe

Critérios para escolha dos pacientes

Critérios para escolha dos pacientes

Reprodução/Protocolo AMIB

Todos os pacientes vão passar pela triagem

De acordo os protocolo, a triagem deve ser aplicada a todos os pacientes, independente da doença apresentada. Os pacientes não devem ser discriminados quanto a condição clínica, ou seja, pacientes portadores de covid-19 não devem ser priorizados sobre pacientes portadores das demais condições e vice-versa. A chance de benefício é o critério aplicado igualmente a todos os pacientes independente das condições clínicas que apresentam.

Os pacientes que não foram para a UTI devem a continuar a receber os demais tratamentos que não estão racionados, e serem continuamente avaliados.

Os médicos devem comunicar aos pacientes e familiares da existência desse protocolo.

Este protocolo será válido enquanto durar o estado de emergência em saúde pública. Outra determinação é a do anúncio público do início e encerramento da aplicação do protocolo.

 

R7

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